Canção do amor distante
Ana Salvagni é uma cantora, musicista e pesquisadora muito especial. Já comentamos aqui na RMB (http://www.revistamusicabrasileira.com.br/homenagens/alma-cabocla-de-hek...) o belo CD dedicado à obra de Heckel Tavares, de 2009. Pela primeira vez o grande compositor conterrâneo de Graciliano Ramos teve um songbook de sua obra gravado, na era digital. Com uma série de shows por todo o país, Ana Salvagni deu uma bela contribuição à memória do autor de Suçuarana. De quebra, ainda ganhou o prêmio de melhor CD de Música Regional na 21ª. edição do Prêmio da Música Brasileira, em 2010.
Mas Ana Salvagni é muito mais que isso. Nascida em Taquaritinga (SP) e radicada em Campinas desde 1988, é formada em piano e regência, dirige corais e tem três CDs gravados: Ana Salvagni (1999), Avarandado (2005) e o supra citado Alma Cabocla (2009). Parceira de vida e música do violeiro Paulo Freire, ainda encontra tempo para se dedicar à poesia, tendo dois livros publicados: Janela sem Tranca e Fotos do Espelho.
Com inúmeras participações em shows, discos e espetáculos musicais, Ana não descuida da carreira. O atual projeto, em que vem trabalhando há alguns anos, é um recorte da música popular brasileira muito caro a todos os poetas: Canção do Amor Distante. Acompanhada pelo violonista Eduardo Lobo, Ana quer registrar 13 canções emblemáticas deste sentimento que oscila entre a saudade, o desejo e a dor, que é o amor distante.
Eduardo Lobo sabe onde pisa. Doutorando em música pela Unicamp, professor e integrante do grupo 4 x 0 que tem, entre outros feitos, o mérito de ter registrado o Concerto Carioca 3, de Radamés Gnatalli com a Orquestra Sinfônica de Campinas. Não bastasse, escreveu um manual para aprendizado de cavaquinho para crianças.
A inspiração para o trabalho veio de outra ilustre poeta campineira (por adoção), Hilda Hilst. Sua Canção I, musicada por Zeca Baleiro e lançada em 2005, foi o estopim.
É bom que seja assim, Dionísio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
Ana e Eduardo estão na reta final de captação de recursos para o CD Canção do Amor Distante. Inscreveram-se na página de financiamento coletivo Benfeitoria. As formas de apoio garantem um CD antecipado, ingressos para os shows e até um livro de poesias autografado.
É fácil apoiar esta iniciativa. Basta entrar no site do projeto (https://beta.benfeitoria.com/cancaodoamordistante) e escolher a forma de contribuição. Em tempos de feroz competição de mercado, rádios interessadas em canções de consumo imediato e gradativo esquecimento do imenso patrimônio que é a música popular brasileira, explorar estas novas brechas é garantir um espaço para aqueles artistas que mantêm um compromisso com a qualidade. Conte conosco, Ana Salvagni!