Outras notas musicais

Café Nice, o livro que não foi editado: que pena

19/09/2012

Por ser com a palavra prólogo que os mestres escritores começam as suas obras, eu também usarei prólogo. Sambista, aspiro escrever minhas memórias. Os amigos que me deram o prazer do feliz contato, ficarão sabendo que não irão ler nenhuma obra-prima, mas apenas anotações de um compositor que faz um esforço tremendo para botar nestas linhas o que conseguiu ver e guardar na memória, durante anos no rádio, os episódios mais marcantes.

De fato, vi muita coisa, seu crescimento, suas diabruras e até sua maioridade. Depois de muitas pesquisas e perguntas se valia a pena se escritor ou não, se valia a pena escrever essas memórias, o lado sim venceu o lado não. Então, depois de compor mais de 720 músicas, letras e músicas, com parceiros e sem parceiros, gravado pela maioria dos nossos melhores cantores, com mais de um terço dessas músicas fazendo sucesso, cantadas em todo o Brasil e algumas no estrangeiro, vivendo exclusivamente de direitos autorais dessas músicas, e já tendo sido cantor com disco gravado, trabalhando em emissoras e conhecendo todas as atividades da música popular durante muitos anos, tento contar aos amigos o que vi por dentro e por fora dos bastidores, como nascem os grandes sucessos, como viviam seus autores, quem foram seus intérpretes, como apareceram, o que pretendiam, o que conseguiram, suas lutas.

Não acho que mereço ser criticado como escritor, pois no momento não me julgo como tal. Depois de muitas lutas – se devia ou não –, numa tarde em Sepetiba dou a primeira canetada no meu samba mais difícil até hoje. Que me ajude o vento, o mar, o sol – frágil nesse mês de junho –, que me ajude Deus.

Por ter sido ali na Avenida Rio Branco, anos atrás, no modesto café de cinco portas, com cadeiras e mesinhas de vime do lado de fora, com cocos verdes no chão e ao seu redor, que todos nós do rádio tivemos nossos primeiros sonhos, dou a essas memórias o seu nome: Café Nice.

Sepetiba (RJ), 3 de junho de 1964.O autor.

(Prólogo de Wilson Batista para o livro de memórias Café Nice, iniciado em junho de 1964 e interrompido com a morte do compositor)
 

Vaias para o vencedor

Pra não dizer que não falei de flores (a preferida do público), de Geraldo Vandré, e Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim, disputaram a finalíssima do III Festival Internacional da Canção, em 1968. Sabiá venceu e Caminhando (como Pra não dizer... era também conhecida e que, por seu teor político, tornou-se o hino das manifestações realizadas contra o governo militar) ficou em segundo lugar, para desespero da platéia presente ao Macaranãzinho, que vaiou a canção vencedora.
 

Pérolas finas da MPB

Pobre, meu pai
Sete punhos espalhados no ar
Oito olhos vigiando o quintal
E o meu coração de vidro se quebrou
(...)
Doido, meu pai
Sete bocas mastigando o jantar
Sete loucos entre o bem e o mal
E o meu coração de vidro
Não parou de andar
(...)

(Sérgio Sampaio)
 

O festival que atraiu os músicos internacionais

Aberto no Maracanãzinho do Rio de Janeiro, no dia 22 de outubro de 1966, o I Festival Internacional da Canção, com a participação de candidatos de 27 países, além do Brasil. Na etapa nacional, concorreram 36 músicas e a vencedora foi Saveiros, de Dori Caymmi e Nélson Mota, interpretada por Nana Caymmi.

Na fase final do festival, a canção ficou em segundo lugar, perdendo para Pergunte ao vento, dos alemães Helmut Zacharias e Karl Schauber.