Memória

Vá de Jackson do Pandeiro

Por Luís Pimentel - 31/08/2020

Chico Buarque recomendou: “Contra fel, moléstia e crime/Use Dorival Caymmi, vá de Jackson do Pandeiro”.
     Hora de relembrar Jackson do Pandeiro, o homem que carregava o calor dos arrasta-pés no instrumento e na voz e faria 101 anos hoje. Um dos maiores cantores e ritmistas que o Nordeste ofertou ao Brasil, Jackson (José Gomes Filho, 1919-1982) foi um dos artistas mais comoventes que já vi sobre um palco.
    Nascido em Alagoa Grande, no interior da Paraíba, o moleque Zé (“Vixe, como tem Zé/Zé de baixo e Zé de riba/Esconjuro com tanto Zé/Como tem Zé lá na Paraíba”) era filho de uma cantadora de coco, que arrepiava tocando ganzá. Queria aprender a tocar sanfona, um dos instrumentos preferidos dos nordestinos, juntamente com o zabumba e o triângulo (formação básica dos trios de pé-de-serra). Os pais não tinham dinheiro para a sanfona, deram-lhe um pandeiro.
     Menino ainda, Jackson se mudou com a família para Campina Grande, onde fez todo tipo de trabalho destinado aos meninos pobres e começou a prestar atenção nos cantadores de coco e violeiros das feiras. Foi em Campina que amigos lhe deram seu primeiro nome artístico, Jack, por influência dos seriados norte-americanos de faroeste a que assistia no cinema, onde tinha sempre um Jack isto ou aquilo.
O artista foi fazendo o seu caminho, ao caminhar e ao cantar. Nos anos 40 transferiu-se para João Pessoa, onde tocou em cabarés e começou a se apresentar em programas de rádio. De lá, para Recife, a desde sempre festejada capital de Pernambuco. Estreou na concorrida Rádio Jornal do Comércio, onde ganhou e adotou definitivamente o nome Jackson do Pandeiro. Em 1953 gravou seus primeiros sucessos: Sebastiana (Rosil Cavalcanti) e Forró em Limoeiro (Edgar Ferreira). Em Recife casou-se com Almira, que se tornou sua parceira nas apresentações, dançando e fazendo coro ao seu lado.
O ano de 1956 encontra Jackson e Almira desembarcando no Rio de Janeiro. A maneira peculiar de cantar e de tocar o seu pandeiro já era festejada no país inteiro e o paraíba danado foi logo contratado pela Rádio Nacional. Fez um sucesso enorme, de público e de crítica, arrepiando nos baiões, cocos, rojões, sambas e marchinhas de carnaval. Sua influência é até hoje sentida em artistas que regravam as músicas que Jackson celebrizou. A influência de sua maestria e velocidade vocal pode ser conferida em grandes artistas que se inspiraram nele, como João Bosco, Lenine e Elba Ramalho, entre tantos outros.
Jackson do Pandeiro popularizou e deu dignidade interpretativa a inúmeros clássicos da música nordestina, como Chiclete com Banana (Gordurinha/ Almira Castilho), Xote de Copacabana (José Gomes), 17 na Corrente (Edgar Ferreira/ Manoel Firmino Alves), Como Tem Zé na Paraíba (Manezinho Araújo/ Catulo de Paula), Cantiga do Sapo, A Mulher do Aníbal, (Edgar Ferreira) e Forró em Caruaru (Zé Dantas).
Pouco lembrado, mas sempre reverenciado por quem sabe o valor de sua imensa importância para a música brasileira, o grande Jack, que se vivo fosse estaria festejando centenário, foi um dos maiores, merecedor da mais profunda admiração.
Siga o Chico: vá de Jackson do Pandeiro.