Memória

Orlando Silva – 40 anos de saudade

Por Alberto Buaiz Leite - 29/08/2018

No ano de 1933, os funcionários da Auto Viação Popular, localizada no Lins de Vasconcelos, no Rio de Janeiro, sempre aguardavam ansiosos o término do expediente. É que neste momento um rapaz, tímido e humilde, chamado Orlando Garcia da Silva, que lá trabalhava, cantava, na garagem da empresa, para seus companheiros de trabalho.

Esta foi a primeira platéia que ouviu atenciosa o seu canto. No ano seguinte, aos 19 anos, o ex- cobrador de ônibus se tornaria um dos maiores intérpretes de nossa música e ficou conhecido como Orlando Silva-“O Cantor das Multidões”.


     Nosso homenageado nasceu em 03 de outubro de 1915, no Engenho de Dentro, subúrbio carioca. Era de família pobre, perdeu o pai com 3 anos de idade e precisou trabalhar desde cedo. Foi aprendiz numa fábrica de cerâmica, operário numa fábrica de calçados, estafeta na Western e entregador de encomendas. Mas tinha noção do seu talento com a voz e perseguiu a meta de tornar-se cantor. Incentivado pelo irmão Edmundo Silva e por Luis Pimentel, seu vizinho, foi à Rádio Cajuti fazer um teste e lá conheceu o compositor Bororó que, impressionado com a sua voz, resolveu apresentá-lo ao cantor Francisco Alves. O “Rei da Voz” também ficou admirado com seu canto e levou-o para cantar no seu programa de rádio. Foi sua estréia como cantor profissional, em 1934. Nesse mesmo ano, gravou, na Columbia, seu primeiro disco e a partir daí, o sucesso o acompanhou por muitos anos.
     A partir de 1935, sua trajetória artística mostrou grandes momentos. Assinou contrato com a Victor e passou a atuar na Rádio Transmissora. No ano seguinte, participou da inauguração da Rádio Nacional, sendo contratado e passando a ter um programa semanal. Ainda nesta década de 1930, lançou os maiores sucessos de sua carreira como “Lábios que Beijei” de J. Cascata e Leonel Azevedo, “Carinhoso” de Pixinguinha e João de Barro, “Rosa” de Pixinguinha e Otavio de Souza, “Juramento Falso” de J. Cascata e Leonel Azevedo, “Nada Além” de Custódio Mesquita e Mario Lago e “A Jardineira” de Benedito Lacerda e Humberto Couto, grande sucesso no Carnaval de 1939.
     O apogeu de sua carreira ocorreu entre 1937 e 1945 com muitas apresentações nos palcos do Brasil, nas rádios e inúmeras gravações. Foi campeão em venda de discos e recebia cachês maiores do que qualquer outro artista. Participou de alguns filmes como “Cidade Mulher” de Humberto Mauro, “Banana da Terra” de J. Rui e “Segura essa Mulher” de Watson Macedo. A vida artística teve momentos de declínio nas décadas de 1950, 1960 e 1970, em função de problemas pessoais e dos novos rumos que a arte musical brasileira tomou, mas o cantor nunca deixou de atuar. Em 1973, ainda lançou o LP “Orlando Silva Hoje” pela RCA Victor e entre 1975 e 1977 apresentou-se, algumas vezes, na televisão.
     Orlando Silva faleceu em 07 de agosto de 1978, vítima de um AVC. Seu enterro reuniu cerca de mil e quinhentas pessoas e seu corpo foi velado na sede do Flamengo, no Morro da Viúva, como era seu desejo.
O menino pobre do subúrbio foi um vencedor na vida. Conquistou um enorme contingente de fãs, recebeu muitos prêmios e homenagens, influenciou vários cantores e até hoje é lembrado como uma das mais belas vozes do Brasil.