Memória

João do Vale – 20 anos de saudade

Por Alberto Buaiz Leite - 19/12/2016

“Pirulito enrolado no papel/Enfiado no palito/Papai eu choro/Mamãe eu grito/Me dê um tostão/Pra comprar um pirulito”. Um menino de dez anos cantarolava estes versos, pelas ruas de sua cidade, tentando vender os doces que sua mãe fazia. Seu nome era João Batista do Vale e trabalhou muito para se tornar o grande cantor e compositor João do Vale.


     Nosso homenageado nasceu em Pedreiras, no Maranhão, em outubro de 1933. Por lá ficou até os quinze anos quando saiu de casa para tentar a vida em outros lugares. Esteve no Piauí, Bahia e Minas Gerais. Trabalhou como feirante, ajudante de caminhão, garimpeiro e ajudante de circo. Seu sonho era chegar ao Rio de Janeiro e isto aconteceu em 1950. Aqui trabalhou como pedreiro mas costumava visitar as emissoras de rádio, especialmente a Rádio Nacional, buscando cantores para gravar suas músicas.


     Em 1953 teve sua primeira composição gravada por Zé Gonzaga, o baião “Madalena”, em parceria com o intérprete. Fez amizade com Luis Vieira, tornaram-se parceiros e compuseram “Estrela Miúda” gravada por Marlene, neste mesmo ano. O sucesso maior chegou na década de 1960. Convidado por Zé Keti, estreou como cantor no ZiCartola se apresentando toda semana. Em 1964 participou do espetáculo “Opinião” ao lado de Zé Keti e Nara Leão, mais tarde substituída por Maria Bethania. Foi quando “Carcará” (parceria com José Candido) foi apresentada ao público, tornando-se o maior sucesso de sua carreira. Seu primeiro LP foi gravado em 1965, “O Poeta do Povo” e lançado pela gravadora Philips. A partir daí fez uma carreira de sucesso, com outras gravações e apresentações pelo Brasil e no exterior.


     As músicas de João do Vale deram popularidade a vários artistas como Maria Bethania, com a já citada “Carcará”, Gilberto Gil, com “O Canto da Ema” (parceria com Aires Viana e Alventino Cavalcanti) e Ivon Curi, com “Pisa na Fulô” (parceria com Ernesto Pires e Silveira Junior).
     Durante a ditadura militar foi perseguido e ficou algum tempo afastado da música, tendo se exilado em Pedreiras. Mais tarde, voltou ao Rio de Janeiro e retomou a carreira artística. Participou, em 1975, da remontagem do espetáculo “Opinião” e gravou seu segundo disco, em 1981, lançado pela gravadora CBS. Sua carreira foi, novamente, interrompida quando sofreu o primeiro AVC, em 1986. Infelizmente, a doença foi impiedosa com ele e um último derrame, em 1996, o levou à morte.


     João do Vale foi um artista fundamental para nossa música. Sua obra tem, também, um cunho político. . Aborda a questão da reforma agrária, das desigualdades sociais e a realidade do trabalhador rural nordestino, que ele conhecia tão bem.