Memória

Heitor dos Prazeres: 50 anos de saudade

Por Alberto Buaiz Leite - 26/10/2016

¨Heitor dos Prazeres, Carioca da Gema, Artista de Corpo e Alma”. Com este enredo, o G.R.E.S. Alegria da Zona Sul homenageou, em 2009, um dos grandes artistas brasileiros, nascido em23/10/1898 e que nos mostrou sua arte como pintor,músico, compositor e cantor até falecer em 04/10/1966.


     Heitor dos Prazeres teve uma vida difícil, pois perdeu o pai com 7 anos e, logo cedo, começou a trabalhar. Foi marceneiro, lustrador, engraxate e jornaleiro. Mas, desde novo, esteve ligado à Música, influenciado pelo pai que foi clarinetista. Ainda criança ganhou um cavaquinho do tio, Hilário Jovino Ferreira, que costumava levar o menino para as festas na casa de Tia Ciata. Cresceu e continuou andando pela Praça Onze e seus arredores e a região foi por ele denominada “África em miniatura”. Frequentou o Estácio onde conheceu Ismael Silva, Bide, Marçal, João da Baiana, Pixinguinha e outros bambas. Na década de 1920 já era conhecido e respeitado como “Mano Heitor do Estácio”.

Frequentou vários redutos de samba e participou da fundação da Mangueira, Estácio e Portela, onde permaneceu e se tornou amigo e parceiro de Paulo da Portela. Suas composições foram gravadas por vários nomes de nossa música como Mário Reis, Francisco Alves, Aracy de Almeida, Sylvio Caldas, Carlos Galhardo e tantos outros.


No Carnaval, Heitor estava sempre presente e costumava sair fantasiado de baiana, cantando e tocando seu cavaquinho. Os foliões, muito animados, o acompanhavam e como ele usava um pano da costa sobre a fantasia, alguns seguravam as extremidades do pano, como se fosse uma bandeira. Isto o inspirou a criar um estandarte e assim surgiu, nas escolas de samba, a figura da porta-bandeira conduzindo o pavilhão da agremiação.


Heitor compôs cerca de 200 músicas, mas teve poucos parceiros. Paulo da Portela(“ Cantar Para Não Chorar”), Herivelto Martins(“Lá em Mangueira”) e João da Gente(“A Tristeza me Persegue”) foram alguns deles. Mas um dos mais importantes foi Noel Rosa, que compôs com ele “Pierrô Apaixonado”, sucesso no Carnaval até os dias de hoje. Foram grandes amigos e, certa vez, o parceiro o procurou, não para compor, mas para que Heitor resolvesse um problema com um marinheiro alto e forte, que estava assediando sua namorada. O parceiro não hesitou e partiu para o bar onde o marinheiro costumava beber. Sempre disposto para brigar e exímio capoeirista Heitor não precisou falar muito para que o conquistador se desculpasse e, com ironia, nosso homenageado ainda lhe disse: “Vai ancorar em outra praia”.


Heitor dos prazeres foi um artista completo. Tanto na Música, como nas Artes Plásticas, tendo sido premiado no Brasil e no exterior. Sua obra ainda está viva, fato comprovado pelas recentes gravações de seus sambas por Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e outros.