Memória

Centenário de Luiz Bandeira

Por Gerdal J. Paula - 19/12/2023

 "Muitas imagens eu poderia dele guardar, nesses anos em que juntos convivemos. O seu otimismo, o amigo de todas as horas, a elegância no tratamento com as pessoas, a sensibilidade poética à flor da pele e a facilidade de converter sentimentos em notas musicais o tornavam um personagem à procura de um autor. Ele era o poeta de várias cidades, soube cantar as saudades de Recife e Olinda, que o viram nascer, exaltar a alegria contagiante do Rio de Janeiro, onde viveu por mais de trinta anos, sem esquecer os tempos bons de sua meninice, quando passava as férias em Maceió.
O vácuo de sua ausência parece uma constante a acompanhar-me os passos. Uma fase doída da vida, só comparável com o semblante de tristeza e desolação do seu filho Fernando, na missa de trigésimo dia, quando, numa só frase, expressou a angústia que lhe atordoava o peito: "Estou com muita saudade do meu pai". Luiz Bandeira foi embora, num domingo de carnaval, naquele 28 de fevereiro de 1998. Passaram-se os anos, vieram novos carnavais, mas, em todos os recantos, todos estão a cantar o seu conhecido frevo-canção "Voltei, Recife!', um grito de saudade que ele mandou do Rio de Janeiro em 1959.
Nascido na atual Avenida Santos Dumont, no Rosarinho, em 25 de dezembro de 1923, Luiz Bandeira foi iniciado na carreira musical por sua mãe, Elizabeth Mendes Bandeira. A Dona Lili, como recordava ele: "um misto de doceira e professora de piano". Em suas conversas, recordava com saudade Marieta, uma espécie de mãe adotiva, responsável por sua ligação com as Alagoas. Lá, durante as férias, iniciou-se na música nordestina, assistindo, nas feiras e praças de Maceió, às apresentações das bandas de pífano, emboladores, cocos e pastoris.
Em 1939, no programa "Valores Desconhecidos", dirigido por Abílio de Castro, na Rádio Clube de Pernambuco, ingressou na vida artística. Anos depois, já fazia sucesso com o conjunto vocal Garotos da Lua, ao lado de Inaldo Vilarim, Ernani Reis, José Rabelo, Madeirinha e Djalma Torres. Em 1942, ingressava como cantor na Orquestra de Nelson Ferreira e, depois de curta temporada na Rádio Jornal do Commercio (1948-1950), transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1984.
No Rio, integrou a orquestra do Copacabana Palace, participou das revistas de Walter Pinto e logo foi contratado pela Rádio Nacional. Em 1951, fez sucesso com o baião "Torei o Pau", gravado por Manezinho Araújo, seguido de "Baião "Sacudido" (1954), em parceria com Humberto Teixeira, e do samba "O Que os Olhos Não Veem", gravado no ano seguinte pela Continental.
Em 1955, compôs "Na Cadência do Samba", conhecido pela letra do seu primeiro verso - "que bonito é" - e divulgado no cinema nas trasmissões esportivas do Canal 100. Em 1958, foi a vez de "O Apito no Samba", que veio a receber letra de Luiz Antônio e tornou-se uma espécie de vinheta musical da Cidade Maravilhosa.
Em 1984, Luiz Bandeira voltou de vez para o seu Recife, integrando-se à vida artística local. Procurou resgatar a sua obra com a publicação dos seus discos "Voltei, Recife!", em 1985, e "Como Sempre fui - 50 Anos de Vida Artística, em 1991. Sem mais o ter no nosso convívio, ficam as notas de saudade para acalentar o nosso pranto de saudade."

 https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=oZbK99aF7b4 ("Já Vou, Já Vou")

     https://www.youtube.com/watch?v=voHLJLxkEKI ("Carabina")

     https://www.youtube.com/watch?v=7gMcWpQx6-8 ("Pernambucana")

     https://www.youtube.com/watch?v=KGrIpU-NWYs ("Voltar, Eu Não")

     https://www.youtube.com/watch?v=d2IKgXQ59To ("O Apito no Samba")

     https://www.youtube.com/watch?v=ZaWJmt4ki6A ("Na Cadência do Samba")

https://www.youtube.com/watch?v=qItwk3fhbMk (Leonardo Dantas, pesquisador - entrevista sobre o frevo - 4 min)    

Pós-escrito: a) o texto acima, encontrado no blogue do colunista social Fernando Machado, tem a assinatura de Leonardo Dantas, jornalista e destacado pesquisador pernambucano, sobretudo um historiador de Recife, com vários livros publicados (último link) - também diretor da editora Massangana e produtor da gravadora Rozenblit -, infelizmente falecido há pouco, em 23 de novembro último; b) recordando ainda o compositor Luiz Bandeira, também em intenção desse amigo dele, as músicas relacionadas: "Já Vou, Já Vou", com Luiz Bandeira - faixa do elepê abaixo, dos tempos dele como "crooner" em boates do Rio, lançado pela RGE em 1965; "Carabina", com a Banda de Pau e Corda; "Pernambucana", com Luiz Bandeira; "Voltar, Eu Não", com os Golden Boys - concorrente, em 1971, na parte nacional do VI Festival Internacional da Canção Popular (TV Globo), vencida pelo Trio Ternura com "Kiryê", de Paulinho Soares e Marcello Silva; "O Apito no Samba" (parceria de Luiz Antônio), com Wilson Simonal; "Na Cadência do Samba", com Luiz Bandeira.