Memória

Aracy de Almeida – 30 anos de saudade

Por Alberto Buaiz Leite - 28/06/2018

Muitos falam dela como a grande intérprete de Noel Rosa. É uma afirmação verdadeira, mas é pouco para definir a cantora Aracy de Almeida. Na verdade, ela foi além disso. Na era do rádio ficou conhecida como “O Samba em Pessoa”, título dado pelo locutor Cesar Ladeira. Aracy gravou músicas de Lamartine Babo, Ary Barroso, Wilson Batista, Herivelto Martins, Herve Cordovil, Ataulfo Alves, Heitor dos Prazeres, Custódio Mesquita, Assis Valente e tantos outros. E não se limitou ao samba, gravando frevos e marchinhas.
     Aracy Teles de Almeida nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de agosto de 1914. Morou no bairro do Encantado, onde viveu até o fim da vida. Começou a cantar, profissionalmente, em 1933, na Rádio Educadora, onde conheceu Noel Rosa. Após ouvi-la cantar, o poeta da Vila disse: “Gostei muito. Você cantou muito bem”. Após saírem da rádio, foram beber na Taberna da Glória e tornaram-se amigos.
     Em 1934 passou a fazer parte do elenco da gravadora Columbia e sua primeira gravação foi a marchinha “Em Plena Folia” de Julieta de Oliveira. Lá gravou pela primeira vez uma obra de Noel Rosa, o samba “Riso de Criança”. Em 1936, já na gravadora Victor, gravou seu primeiro sucesso de Noel Rosa, o samba “Palpite Infeliz”. Nos anos seguintes, lançou outros grandes sucessos de nosso cancioneiro com “O Maior Castigo Que Eu Te Dou” e “Último Desejo”, ambos de Noel e “Tenha Pena De Mim” de Ciro de Souza e Babau da Mangueira. Outro grande sucesso da cantora foi a gravação de “Camisa Amarela” de Ary Barroso. Na década de 1940, transferiu-se para a gravadora Odeon e lá lançou clássicos como “Fez Bobagem” de Assis Valente, “Saia Do Meu Caminho” de Custódio Mesquita e Evaldo Rui e “Tudo Acabado” de Heitor dos Prazeres. Na década de 1950, seu grande mérito foi ter resgatado a obra de Noel Rosa que estava meio esquecido do grande público. Regravou muitos dos seus sucessos, chegando a lançar pela gravadora Continental três discos com suas músicas. Continuou gravando nos anos 60, mas também realizou espetáculos em boates e teatros. Nas décadas de 1970 e 1980 dedicou a maior parte do tempo ao trabalho na TV, não como cantora e sim como jurada de programas de calouros.
     Nossa homenageada faleceu, de edema pulmonar, em 20 de junho de 1988, no Rio de Janeiro e no seu enterro milhares de pessoas cantaram “Não Me Diga Adeus” de Paquito, João Correa da Silva e Luiz Soberano que foi um grande sucesso na sua voz.
     Aracy foi uma de nossas maiores intérpretes. Seu timbre de voz anasalado fugia dos padrões da época. Nunca desafinava. Foi a grande representante do lamento do samba. Além disso, foi uma pessoa surpreendente pelo seu caráter, sua autenticidade, sensibilidade e o amor que dedicava aos amigos. Seu senso de humor também marcou sua personalidade e contribuiu para aumentar sua popularidade. Há uma história interessante que é contada sobre ela quando insistiam para que viajasse de avião. Ela não admitia entrar numa aeronave e então alguém disse: “Aracy, ninguém morre de véspera, só quando chega seu dia. Ela então respondeu: “E se for o dia do piloto?”