Homenagens

Zé Rodrix não viu o novo CD

Por Julio Cesar de Barros* - 30/11/2010

(*Veja.com/Blog Passarela)

Faz um ano da morte do compositor Zé Rodrix, no Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde foi internado depois de sofrer um mal súbito. Tinha só 62 anos e não viveu para ver o quarto álbum do grupo, que estava em produção e foi lançado em março deste ano. Cantor, compositor e publicitário, José Rodrigues Trindade, o Zé Rodrix, integrou a banda Momento 4, que ganhou o festival da TV Record, em 1967, cantando Ponteio, de Edu Lôbo. É autor de Casa no Campo (com Tavito), música com a qual venceu o festival de Juiz de Fora, classificando-se automaticamente para o Festival Internacional da Canção, da TV Globo e se tornando um grande sucesso na voz de Elis Regina. ”Fomos a Juiz de Fora porque não tínhamos o que comer em casa.

Ao sair da Momento 4, Rodrix integrou, em 1970, a banda de rock progressivo Som Imaginário, ao lado de Tavido, Wagner Tiso, Fredera, Luiz Alves e Robertinho Silva. Durou pouco a experiência. Um ano depois formou com o carioca Luís Carlos Pereira de Sá e o baiano Gutemberg Nery Guarabyra Filho (integrante do Grupo Manifesto e vencedor do II Festival Internacional da Canção com Margarida, em 1967), um trio que enfeitou a trilha sonora da vida de muita gente.

Carimbados como criadores do rock rural, os três fizeram escola e estabeleceram quase que um novo gênero musical, entre o regional e o universal, entre o telúrico e o espiritual. Um ano depois da criação do grupo, saiu o primeiro disco, Passado, Presente, Futuro, que abria com Zepelin:

Eu queria passear de zepelin
Na cadeira ao lado do Conde Ferdinando
Num balão de gás inflamável
Pelos ares da Europa viajando

Em 1973, o trio lançou o LP Terra, no qual se destacou o hit Mestre Jonas. Depois desse segundo disco, Rodrix deixou o grupo. Enquanto ele fazia sucesso na publicidade com jingles brilhantes, compunha trilhas para o cinema e fazia experiências ousadas com a banda Joelho de Porco (com Tico Terpins e Próspero Albanese), Sá e Guarabyra seguiam carreira em dupla, até que em 2001, depois de quase três décadas separados, eles retornaram para uma participação no Rock in Rio 3 e gravaram novo disco, Outra Vez na Estrada, que resultou numa turnê e num DVD. ”A gente sempre manteve o contato e volta e meia pintava uma idéia ou outra para uma nova música. Aí decidimos nos reunir de novo e gravar. Mais ou menos na mesma época pintou o convite para o Rock in Rio 3”, contava Rodrix.

A morte de Zé Rodrix pode ter dado uma meia trava no planejamento de shows e turnês, seria impossível imaginar Sá e Guarabyra deixando a peteca cair. A agenda da dupla segue cheia: um novo CD e a estruturação de uma turnê, agora novamente em dupla. Amanhã é um disco para quem gosta de ouvir música, para quem acredita que a canção não morreu. Mas balançará as roseiras por onde a caravana passar, como já fizeram no passado Dona, Espanhola e Sobradinho. São décadas de estrada, mas o caminho é largo e ainda longo.