Homenagens

Rei do baião, do Nordeste e do Brasil

Por Luís Pimentel - 26/10/2012

Se vivo fosse, ele faria 100 anos no dia 13 de dezembro de 2012. Seu centenário tem sido comemorado ao longo do ano, com peças de teatro, shows, especiais de televisão e filme de sucesso. Claro que o Velho Lua estaria cantando muito, enaltecendo a vida do sertanejo, significando muito para o seu povo. Mas morreu há 23 anos, num dia 3 de agosto.

Nenhum artista brasileiro foi tão importante para a cultura das regiões Nordeste e Norte do Brasil, para a divulgação de como vivia, trabalhava e sofria o trabalhador das roças quanto Luiz Gonzaga (aqui representado neste lindo desenho de Amorim), filho do mestre sanfoneiro Januário e da roceira Ana Batista de Jesus, que um dia saiu da pequena cidade de Exu, região do Araripe, no sertão pernambucano, para conquistar o Brasil e fazer sua sanfona conhecida nos quatro cantos do país e também no exterior.

Foi um artista verdadeiramente popular e mambembe, que corria o Brasil inteiro, ano a ano, fazendo shows das grandes capitais aos municípios distantes e minúsculos. “Seu Luiz”, como era carinhosamente tratado pelos amigos, vivia repetindo que não poderia prescindir de parceiros (teve muitos, Humberto Teixeira e Zé Dantas foram os mais constantes), porque não sabia trabalhar sem um poeta do lado. Achava-se um homem rude e sem traquejo com as palavras, o que não era verdade.

Gonzaga tinha, sim, um olhar extremamente poético sobre o mundo e o revelou diversas vezes em entrevistas, participações em programas de rádio e TV e no longo depoimento que deu à pesquisadora francesa Dominique Dreyfus, autora do livro Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga. Explicando a ela, por exemplo, a razão dos longos períodos de chuva que costumavam alegrar Exu, ele disse, em poucas palavras, o que um meteorologista gastaria muito verbo para dizer: “O pé de serra tem sempre essas matas, essas montanhas que atraem as chuvas. Tem um vento que desvia o rumo da chuva. Ela se forma, vem, e quando chega no alto da serra, se divide, parte pra tudo que é canto”.

Lindo. Como linda foi sua vida e toda a sua obra.