Nogueira, o nó na madeira
No dia 5 de junho fez 11 anos que a música brasileira perdeu um de seus mestres sagrados e consagrados: o cantor e compositor João Nogueira, autor de sambas marcantes como Nó na madeira, Espelho, Um ser de luz, Clube do samba e Baile no Elite, entre tantos, quase sempre em parceria com feras Paulo César Pinheiro, Nei Lopes ou Edil Pacheco. Carioquíssimo como poucos, João – uma das mais belas vozes do nosso cancioneiro – nasceu no Méier, no dia 12 de novembro de 1941 (faria setentinha este ano). Era também um grande contador de causos, e foi personagem de alguns, como este que me contaram e eu conto aqui:
Contam que, se apresentando em Belém do Pará, o nosso artista resolveu dar uma volta no tradicional mercado Veropeso, onde se compra de pirarucu seco e tucupi molhado a roupas, eletrodomésticos e folhas medicinais para curar de um tudo. Queixando-se de uns “probleminhas” de saúde, Nogueira procurou uma daquelas barracas especializadas em ervas, acompanhado do sobrinho, empresário, cantor, pau-pra-toda-obra, companheiro de fé e medianeiro Didu Nogueira.
Amado e conhecido no Brasil inteiro, João foi reconhecido pelo caboclo do balcão e começou logo a fazer os pedidos:
– Meu camarada, qual é a folha boa para tratar diabetes?
– Essa aqui – respondeu o paraense, de primeira.
– E pra circulação?
– Essa! Desentope tudo o que é veia.
– E para essas coisas de estômago, esôfago, azia pós-esbórnia, o amigo tem alguma coisa?
– Eita! É comigo mesmo. Pode cozinhar essa casquinha de pau. É tiro e queda – e foi juntando a mercadoria escolhida. – Mais alguma coisa?
– Essa folhinha aqui serve pra quê? – perguntou João.
– Espinhela caída, joanete, inflamações generalizadas, cansaço, enxaqueca. Também serve para limpar a voz. Pro senhor, então, é um santo remédio.
João Nogueira pediu também umas misturas boas pros rins, um preparado pro fígado e mais meia dúzia de cipós, mandando embrulhar tudo.
Satisfeito com a venda, mas preocupado com a saúde do freguês famoso, o caboclo comentou baixinho com Didu:
– Arre, égua, véio! O nó-na-madeira aí tá bem ruinzinho, num tá?