Homenagens

Los Hermanos, uma banda no mínimo, diferenciada

Por Felipe Silvany - 04/12/2007

O início da banda já é conhecido e bem parecido com a das bandas dos anos 80 e algumas dos anos 90; tudo começou na faculdade, na PUC carioca, 4 caras, no final só um deles formou; o caminho dessa galera era mesmo a música.

Anna Julia estourou como o grande “single” da banda, logo no primeiro disco; tocava muito e em todo o Brasil; isso em meados do ano 2000, porém Anna Julia não demonstrava a essência dos hermanos. O hit era uma baladinha, de letra simples; a musica-chiclete, pega fácil. Eles fizeram muitos shows, e o público só queria ouvir Anna Julia; a gravadora queria que eles tocassem Anna Julia e essa uma situação foi crescendo ao ponto de Camelo, Amarante, Barba e Bruno chegarem a exaustão; decidiram não tocar mais o hit; alem disso alugaram um sitio e se concentraram para gravar o segundo disco; isso é o que eu chamo de concentração; nada de telefone, TV ou internet; “vamo pro sitio para compor e gravar”; daí nasceu o “Bloco do eu sozinho” 2 meses depois. Sem consultar a gravadora previamente eles simplesmente entregaram o disco e pronto, “é isso aí”. O CD mostrava um Los Hermanos diferente daquele do primeiro CD, que consagrou Anna Julia. A gravadora não gostou do disco e ameaçou não produzir, porém o disco acabou saindo. Foi um fracasso nas vendas apesar de agradar a critica. O perfil de encarar o mercado ficou evidente nesse conjunto de atitudes da banda, a decisão de não tocar Anna Julia na intenção de elucidar outras musicas que mostravam também outras características da banda, alem da gravação de um disco quase que inteiramente por conta própria (e contra a gravadora). O disco vendeu pouco e não gerou lucro; a gravadora faliu, o que seria então dos Los Hermanos daqui pra frente? Mais uma daquelas bandas de 15 minutos de fama? Acho que não.

Quando as coisas não estão andando muito bem a tendência é mudar, técnicas, formas de criação; porém os Hermanos continuaram com a idéia do sitio, a concentração para composição e gravação. Marcelo Camelo disse certa feita que o sitio tinha a finalidade de que os integrantes pudessem voltar a ser amigos após a reunião diária, para ele a rotina de viagem ceifava um pouco essa relação de amizade.

O terceiro disco, Ventura, veio para demonstrar a verdadeira face de Los Hermanos; uma mistura de sons, arranjos originais combinados a letras inteligentes. Eu não sei como esse disco chegou para mim, só sei que passei a conhecer a banda, verdadeiramente, a partir dele. Ouvia muito, decorei quase todas as letras. Confesso que o estilo das musicas me pareceu estranho ao começar a ouvir. Semanas depois de ouvir esse CD fiquei sabendo que ia acontecer um show; oportunidade de conhecer a banda e sua presença de palco; o que diz muito sobre um conjunto musical. Para mim o público de minha cidade não conhecia a banda, achava que a galera de lá não era muito adepto da inovação. Eles se identificavam mais com o publico que pedia para ouvir Anna Julia o tempo todo. Se a presença de palco é o que importava para mim num show, era isso que eu teria naquela noite de dezembro de 2004. O show começou e o publico acompanhava com atenção todas as musicas sem exceção, musicas como “O Vencedor” e “Cara estranho” estavam na boca de todos. Ao iniciar “Alem do que se vê” (“moça, olha só o que eu te escrevi...”) a platéia ficava extasiada. Eu cantava a musica e olhava para o lado, outras 8 ou 9 pessoas cantavam simultaneamente sem errar uma pontuação; imediatamente veio na minha mente “é, não é só eu que ouço Los Hermanos ,aqui”.

Qual é o estilo hermanico? Que mistura de sons é essa? Separar cada influencia musical em cada canção de Los hermanos é como experimentar um perfume e dizer cada ingrediente que ele contém. Fica clara a influência do samba, das marchinhas de carnaval e do rock; os dois primeiros estilos, bem típicos do Rio de Janeiro podem ser vistos com bastante nitidez nas musicas “samba a dois” do 3º CD. Descrever o estilo “Los Hermanos” é quase impossível, apesar de ter alguns que se atrevem a dizer que há MPB, psicodelismo e até hard core, eu diria que eles têm um toque de Bossa Nova, seria errado dizer isso? Bom, Los Hermanos toca o estilo “Los Hermanos” e pronto. Sempre com o toque da guitarra bem original e próprio deles (é claro) certo é que as melodias são simples e as letras fortes na sua maior parte, carregadas de sentimentos; a espinha dorsal, Amarante e Camelo, todas as musicas da banda foram criadas por eles. Fora a composição a interpretação de Amarante fica marcada pela voz preguiçosa, pesada e bucólica, já Camelo é o contrapeso da banda e passa sempre um ar de tranqüilidade.

Fiquei sabendo da parada da banda, não vou mentir que acho bem estranho uma banda que conquistou uma boa parcela de fãs declarar que está de férias por tempo indeterminado. Isso de parar meio que sem explicação é coisa de banda americana, inglesa, irlandesa, lembra do Bon Jovi, e do The Police? Teve também o U2, mas eles não chegaram a parar, na verdade escolheram ficar juntos em Berlim meio que num tempo para concentração; como um projeto maior que o sitio dos Los Hermanos. Até para mim que não sou fã incondicional da banda, a idéia de deixar de ouvir as letras inteligentes e cheias de sentimentos não agrada muito. Eu queria escrever que via Los Hermanos como uma banda com grande possibilidade de fazer uma carreira longa, talvez de mais de duas décadas, como os Paralamas do Sucesso, mas após essa parada, eu não sei não.

Porém os Hermanos ainda se reúnem todas as quintas na Cidade Maravilhosa para jogar aquele truco; do truco pode sair alguma coisa, não é mesmo? Paciência, temos que esperar.

Felipe Silvany
Salvador, outubro de 2007