Homenagens

Caçula: memória viva dos antigos regionais

Por Sandor Buys - 26/01/2014

Depois de algumas horas tocando samba, o pessoal do Regional do Cacizo fez um intervalo e a moça passou a servir refeições para os músicos. Ela primeiramente procurou atender ao menino que, ainda na ternura dos seus 12 anos, já tocava violão entre instrumentistas profissionais e experientes. Então perguntou: – Onde está aquele do violão, o mais caçula de vocês? – Todos riram muito, brincando com o jovem Carlos Silva e Souza, que a partir deste dia ganhou o inseparável apelido de Caçula.
Caçula nasceu em 25 de Agosto de 1943, na Rua Maia Lacerda, no Estácio, bairro do Rio de Janeiro que foi berço de grandes sambistas. Seus pais – Carlos Hilário de Souza e Aglaer Hilário de Souza ¬– tiveram duas filhas além de Caçula – Aglaer e Aglaise. Carlos Souza, como seu pai era conhecido no meio musical, foi compositor de êxito, tendo músicas de sucesso gravadas em disco, como ‘Falso Batuqueiro’, parceria com Raul Marques gravada por Jorge Veiga, e ‘Casa de Cômodos’, parceria com Bucy Moreira gravada por Linda Baptista. Vivendo em uma casa de sambista, Caçula foi tocado cedo pela música e soube se beneficiar desde a infância do contato com músicos amigos de se pai. Ainda aos oitos anos de idade começou a aprender cavaquinho com um professor conhecido como Pinguim e depois violão em uma pequena escola de música. Mas ele diz que foi ouvindo e observando os músicos mais experientes que de fato aprendeu a tocar violão de seis e sete cordas, cavaquinho e ainda violão tenor, baixo elétrico e acústico, baixolão e guitarra.
Enfim tornou-se um mestre. E, hoje, aos 70 anos, carrega viva na memória, a forma de tocar dos antigos sambista e chorões dos regionais de outros tempos. Lembra peculiaridades e sotaques do toque de grandes nomes do passado com quem conviveu. Com orgulho, fala que tocou ao lado de Pixinguinha e de outros instrumentistas fundamentais para a formação da atual música brasileira, como os violonistas Dino sete Cordas e Rogério Guimarães e o cavaquinista Canhoto. Conta com intimidade sobre estórias ocorridas na Rádio Nacional, onde trabalhou tanto tempo, e fatos da vida profissional dos mais consagrados intérpretes da música brasileira da era do rádio, não sendo exagero dizer que ele tocou com a maioria deles.  
Caçula continua ativamente freqüentando as rodas de choro do Rio de Janeiro, sempre contando histórias, e sempre muito bem recebido para dar canjas. E se no passado ganhou as honras, que lhe valeram o apelido, por ser o instrumentista jovem entre os experientes, hoje merece as honras e nossa homenagem por ser o experiente entre os jovens. Este que tanto tem passado para a nova geração reminiscências importantes da cultural musical brasileira. Salve Caçula!