Homenagens

Bem que me lembro...

Por Célio Albuquerque - 05/05/2020

Ele se foi numa segunda-feira das almas
Foi antes da seis da tarde... Já não havia mais Julio Louzada para socorrer de sua aflição fatal
Desembarcou no Boulevard 28 de setembro
Foi para a Rua dos Artistas reencontrar tia Zulmira
A sombra negra da morte não lhe errou a mira
Bem que me lembro do dia que nos encontramos na Muda
Ao lado do Rio Maracanã
E no rádio tocou o Bêbado e a equilibrista...
Logo ali, bem perto do elevado Paulo de Fronti
Onde tempos de outrora, o país também estava em luto, com a tarde que caia como um viaduto
Num hospital público de Vila Isabel, terra também de Noel
Foi entre seus iguais, com o sol no quarador, quanta dor... E o pano na cabeça, o espanador...
Encantando, Água Santa e Acari cantados por Elis... oh coração suburbano que de leviano nos levou para outros planos
Da Maia Lacerda onde a vida continua a mesma merda o psiquiatra viu o tiro sair pela culatra
Chamou seu cliente para tomar uma gelada e foi virar poeta da canção... chorar e aliviar seu coração
 Não dava, não.
O ourives da palavreado, batizado assim por Caymmi, foi o vizinho predileto das segundas sem fim na Garibaldi
Do Moacyr, do Guinga e do João... da feira, das trilhas de novela... da moela, de trocar a noite pelo dia.. do bar da dona Maria..
Mas, que novela... O herói morre no final e a gente nem pode fazer seu gurufim,
Assim como a gente fez pro Alfredinho...
Do ninho, a sabiá chora, o cavaquinho chora, e os galos não brigam mais
Vila Isabel, Estácio derramam sobre ti tua bebida preferida, para ver se assim a gente alivia as feridas
Da tua ausência, das tuas canções nada otárias e tão necessárias

(Ilustração: Amorim)