Homenagens

Arleno Farias: a expressão do velho pé de serra

Por Gerdal José de Paula - 15/03/2013

 

E o menino irrequieto da escola deu no agitador profissional. Um agitador, entretanto, bem chegado, que só dá "alteração" para animar os recintos por onde passa. Um agitador do sacolejo ao som da pegada firme e quente do forró, já diferenciado no "violão percussivo" que toca, uma atração à parte nos seus shows, incrementando o recado bem mandado em canto forte e grave (que lembra bastante o do paraibano Zé Ramalho).

Um forró, por sua vez, que pode fluir na tradição do pé de serra ou, como mais lhe apetece, na mistura com o som que vem de fora (fundindo rumos e vertentes da sua formação musical), mas tendo sempre o Nordeste como base. Aquele menino potiguar, hoje com 35 anos e nascido em São Rafael, só ouvia rock, como muitos outros da sua geração, até que, passando a morar com o pai, sanfoneiro e repentista, Arnaldo Farias - e a acompanhá-lo na sina viageira do músico popular -, começou a sentir o pulso cultural daquele pedaço ensolarado de Brasil em que se inseria, ouvindo, por exemplo, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro e, mais adiante, percebendo em Alceu Valença e Geraldo Azevedo uma ponte entre o que curtia e o que, mais próximo do pai, passara a apreciar. Partindo daí, o talentoso Arleno Farias (foto abaixo) desenvolve o seu trabalho, pegando o fio da meada evolutiva dos ritmos associados ao forró, como o coco, o xote e o baião, aos quais, na sua interpretação, dá vigor próprio, para fazer a interação com expressões rítmicas da contemporaneidade.


Admirado por Dominguinhos - com o qual já dividiu o palco em shows -, Arleno, saindo dos bares de Natal, capital onde gravou o seu primeiro CD, o independente "Atlântida do Sertão", vem para São Paulo em 2000, portando, a partir de então, na bagagem artística, outros quatro CDs e um DVD, "O Dia que Passou por Nós". Este gravado, em 2007, no Sesc Pompeia, no qual, entre outros, conta, em suas imagens, com as ilustres companhias de Oswaldinho do Acordeom e Chico César. Teve duas músicas suas incluídas em trilhas de novelas da Globo - "Bicho do Mato" em "Esperança" (2002 ) e "Mistérios da Vida" em "Sinhá Moça" (2006) - e, no ano passado, além das muitas apresentações pelo Brasil, fez turnê por Holanda, Alemanha e Portugal (neste país, participando da terceira edição do Baião em Lisboa, no Teatro do Bairro, motivada pelo centenário de Gonzagão).

Lá como cá, mandando brasa no seu, como chama, "forró MPBzado" ou na sua "MPB forrozada", de sinal verde para a incidência do rock, do rap e do reggae, mas com a nossa farinha à frente no preparo do pirão. Até porque, em tempos de "cultura globalizada", convém lembrar, como constata em uma de suas músicas, que, "antes do rap, já existia a embolada".