Homenagens

Antônio Carlos e Jocafi: bons de fato

Por Gerdal J. Paula - 28/12/2022

Mudei de ideia em relação a Antônio Carlos e Jocafi: são do ramo, são bons de fato. Brincadeira, naturalmente, pois sempre os considerei bambambãs num tipo de samba bem cadenciado, envolvente, ora agitado, ora malemolente, feito com a sabedoria de uma simplicidade que atinge em cheio o agrado popular, uma obra de timbre próprio na MPB e firma reconhecida pelo sucesso. Justamente por isso, por ausência de rebuscamento na melodia e na harmonia e presença constante de refrães de imediata assimilação, por exemplo, foram de encontro a intelectos que não usam o coração como expressão, num tempo, quando surgiram, endurecido pela mão de ferro do Poder fardado, trazendo como consequência ou efeito dominó, por vezes, em certos círculos, uma certa ideologização excessiva nas escolhas do dia a dia do cidadão comum, mesmo triviais, como a compra de um disco - quem gostasse de um artista A, "engajado", não era bem visto se prestigiasse o artista B, "alienado pelo romantismo", quando, a meu ver, fã que sou desse nosso universo musical, vale mais a contribuição que cada artista dá, com o seu jeito e a motivação que tiver, na composição desse mosaico belíssimo e incrivelmente sedutor do nosso cancioneiro, rútilo de variedade.
Soteropolitanos bem-sucedidos, na segunda metade dos anos 60, em festivais na sua cidade, ainda atuando separadamente, Antônio Carlos Marques Pinto (então guitarrista da orquestra do maestro Carlos Lacerda e futuro marido da cantora Maria Creuza, uma baiana de Esplanada criada na capital) e José Carlos Figueiredo (que cursou Direito até o terceiro ano e se tornou Jocafi seguindo a redução onomástica pela qual, por exemplo, o carioca Antônio Gílson Porfírio foi Agepê e o saltense Odmar Amaral Gurgel, de trás para diante, foi o maestro Gaó) vieram para o Rio e uniram-se profissionalmente, na famosa parceria, em 1969, ano em que já lograram baita repercussão com a conquista do segundo lugar, no IV FIC - edição nacional, da TV Globo, com o samba "Desacato", o que, pouco depois, valeria a ambos, na mesma emissora, um reforço de tal projeção nacional com músicas feitas para novelas e seriados vistos de norte a sul, como "Shazam" e "Uma Rosa com Amor".
Contratados da RCA Victor, lançaram por ela vários elepês, bem executados, de um dos quais "Você Abusou" teria diversas regravações e ganharia meios de comunicação em outros países, como na França, cujo "ulalá" de satisfação com o samba o fez ser cantado na versão de título "Fais Comme L`Oiseau", gravado por Michel Fugain. Felizmente, não ficaram na de horror com a crítica nem rifaram violões, levando adiante o seu "samba-joia", ou seja, a joia de samba popular que tão bem sabem fazer.

     https://www.youtube.com/watch?v=TNGvo_ms6iU ("Catendê")
https://www.youtube.com/watch?v=Hf-ChD9_GJE ("Otália da Bahia")
https://www.youtube.com/watch?v=iXIuFiMSOSk ("Conceição da Praia")
https://www.youtube.com/watch?v=yCzjL0T1efg ("Desacato")
https://www.youtube.com/watch?v=RCvzBhGnagw ("Jubiabá")
https://www.youtube.com/watch?v=S29COaOxyH0 ("Você Abusou")


Pós-escrito: a) nos "links" acima, composições de Antônio Carlos e Jocafi por si próprios - excetuando-se o segundo "link", em que se ouve a voz de Maria Creuza; "Catendê" (letra do finado escritor Ildásio Tavares) - participação do cantor Russo Passapusso, baiano de Feira de Santana, integrante do conjunto BaianaSystem; "Otália da Bahia"; "Conceição da Praia"; "Desacato"; "Jubiabá"; "Você Abusou"; b) foto (autor não identificado): farofafa.com