Homenagens

Aldacir Louro: um sambista que revive na boca do povo a cada Carnaval

Por Gerdal José de Paula - 08/02/2013

Morto em 1955, pouco depois da eclosão do seu último sucesso, "Escurinho", o compositor Geraldo Pereira não pôde, como tencionava, levar avante a ideia de fazer um novo samba que evocasse aquele sujeito morigerado que, sem mais aquela, se tornara um arruaceiro.
Isso, no entanto, foi consumado em "A Situação do Escurinho", que Aldacir Louro (fotos abaixo) - um carioca do chão de estrelas de Botafogo, mas criado em subúrbio - fez com um mangueirense de boa cepa, Padeirinho. Este, por meio daquele - em encontro na Av. Ipiranga, em frente ao café Juca Pato -, tornou-se conhecido por um dos nossos caricaturistas do samba, o paulistano "sui generis" Germano Mathias, que, em 1956, fez o registro - inicialmente em 78 rpm -, mais tarde, em 1978, também feito Gilberto Gil, em elepê. Com uma ocupação curiosa - contratado por autores para mostrar músicas a cantores -, Aldacir Louro, bom intérprete, assim deu seus primeiros passos no "métier", o que o estimularia, pouco depois, a portar bagagem própria de canções e, naturalmente, continuar mostrando-as por si mesmo.
Boas vozes lhe deram ouvidos e acolheram o que compunha, como Zilá Fonseca, que, em 1946, dele fez a primeira gravação - o samba "Onde Vamos Morar?", em parceria com Antônio Valentim -, seguida, entre outros, ao longo dos anos, por Dora Lopes (também parceira em "Nega Odete", samba que cantou em elepê dela, "Enciclopédia da Gíria"), Nora Ney ("Mentira"), Valter Damasceno ("Tô Caindo"), Luiz Bandeira ("Não Vá Embora"), Francisco Carlos ("A Vedete do Ano") e, em recado mais aprumado, Leny Andrade ("Filosofia", em elepê inicial de carreira). Par constante na criação musical teve Aldacir em Linda Rodrigues, que também gravou a lavra de ambos e se notabilizou por lançar, em 1952, um famoso e incisivo samba-canção, "Lama" ("se quiser fumar, eu fumo/se quiser beber, eu bebo...").
Frequentando, desde pequeno, o ambiente das escolas de samba, como a antiga Unidos da Tijuca, Aldacir, morto em 15 de junho de 1996, aos 70 anos, tocava tamborim e, cantando, seguia o estilo formatado por Ataulfo Alves, em que se fazia acompanhar por outros ritmistas e cantoras em programas de rádio, como a Nacional e Mayrink Veiga, e tevê, com uma ou outra atração da TV Globo e "Bibi ao Vivo" e "Programa Flávio Cavalcanti", na TV Tupi. Em 1964, outro carioca, também falecido, o cantor José Ricardo, dele gravou, curiosamente, uma versão, "Eu Que Amo Somente a Ti", de canção romântica amplamente conhecida, "Io Che Amo Solo Te", do internacional Sergio Endrigo. Indubitavelmente, é com "Recordar", de 1955, eternizado por Gilberto Alves, que Aldacir deixa o seu nome na história da cultura popular, um samba carnavalesco bastante relido, mesmo instrumentalmente, como em registro do grande itapirense Cipó e sua orquestra.
Em Aldacir, portanto, a MPB também viveu, de modo memorável.