Homenagens

Ademilde Fonseca, a "Brasileirinha"

Por Gerdal J. Paula - 04/12/2023

Em 1942, superando um "autopreconceito", como já afirmara em entrevista - o da ideia então predominante de à mulher casada caber apenas o tradicional papel de cuidar da casa e dos filhos -, a potiguar Ademilde Fonseca, com 21 anos, já vivendo no Rio com o marido, o músico Naldimar Gedeão Delfim, pôde aqui desabrochar profissionalmente para o canto popular, um dom que, em Natal, já era apreciado em família e entre seresteiros próximos. Também naquele ano, em um amigo "meio malcriadão, mas de gargalhada gostosa", Benedicto Lacerda, ela teve um arrimo fundamental para chegar ao disco (a gravação, na Columbia, de "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, música que aprendera, ainda em Natal, com um amigo de infância), pois, ao acompanhá-la com o seu regional numa festa, o famoso flautista percebeu estar diante de um patrimônio da MPB, que ele cognominou "a rainha do choro".
De fato, causava estupefação toda aquela técnica, afinação, com relevo nos agudos, e clareza de dicção a serviço de um tipo de composição até então só tocado e de andamento costumeiramente ágil. Outro brado retumbante do sucesso, também internacional, seria ouvido na carreira dela, oito anos depois, com a gravação de "Brasileirinho", de Waldir Azevedo, firmando-a no gênero, com o registro letrado de muitos outros choros famosos - como "Apanhei-te Cavaquinho" e "Odeon", de Ernesto Nazareth -, e no estrelato das nossas intérpretes, luzindo, ademais, por causa de número elevado de discos vendidos. Daí em diante, entre os muitos momentos marcantes por que passou, está a presença de Ademilde, no II Festival Internacional da Canção (FIC), em 1967, defendendo uma maravilha composta por Pixinguinha, "Fala Baixinho", de versos assinados por Hermínio Bello de Carvalho. Como no famoso choro-batucada do portelense Alvaiade e Zé Maria, também levado ao fonograma por Ademilde, o que vinha de bom ela traçava muito bem.
Pós-escrito: a) ouve-se Ademilde Fonseca, nos links acima, em "História Difícil" ("Inconstitucionalissimamente"), de Pereira Costa e Vítor Santos; "Se Você Disser Que Sim", de Luiz Bandeira; "Pinicadinho", de Jararaca e Ratinho; "Rio Antigo", de Altamiro Carrilho - letra de Augusto Mesquita; "Delicado", de Waldir Azevedo - letra de Ari Vieira; "Fala Baixinho", de Pixinguinha e Hermínio Bello de Carvalho; b) foto: edição da extinta revista "O Cruzeiro" de 8 de maio de 1959.

     https://www.youtube.com/watch?v=QUorb0EhbEU ("História Difícil")

      https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=PbPILqP49_c ("Se Você Disser Que Sim")

      https://www.youtube.com/watch?v=g0W9uMaL2wY ("Pinicadinho")

      https://www.youtube.com/watch?v=s31E0U7haBo ("Rio Antigo")

      https://www.youtube.com/watch?v=uRbS1dUTFbU ("Delicado")

      https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=6WTfgK0JzQI ("Fala Baixinho")