Especial

Toninho Horta: um audaz propagador na música instrumental

Por Duda Hamilton - 29/11/2011

Mineiro de Belo Horizonte, o embaixador da música instrumental brasileira no mundo, Toninho Horta, traz no DNA ritmos e melodias, que entoa em vários cantos do planeta, com uma produção de dar inveja. Só neste ano esteve envolvido com mais de 10 projetos. Entre eles o álbum Harmonia e Vozes, com canções suas na voz de cantores e cantoras populares, como Ivete Sangalo, Erasmo Carlos, Arnaldo Antunes, entre outros; e a biografia Harmonia Compartilhada, cuja primeira edição está esgotada, mas deve ganhar nova edição até 15 de dezembro.

Além disso, lançou também dois DVDs – Música Audaz e Tom de Minas –, e dois CDs no Japão e mais um álbum solo, com a participação da japonesa Nobie. E tem mais. Com o fôlego de um adolescente, o sagitariano que faz dia 2 de dezembro, 63 anos, conta, por telefone, sobre seu mais novo trabalho ao lado de Jacques Morelembaum (violoncelo), Marco Suzano (percussão) e Liminha (baixo). “Tocar e gravar são meus maiores prazeres, seja aqui ou em qualquer parte do mundo”, confessa, “ainda mais com feras como essas”.

Toninho fala animado de suas turnês, dos workshops no Brasil e no exterior, dos diversos convites que tem recebido para produzir e/ou acompanhar artistas seja em discos ou shows, e de seus recitais no próximo ano em Pequim. Pede mais espaço na mídia brasileira para a música instrumental, e se orgulha em dizer que seu estado, Minas Gerais, é o que abriga o maior número de festivais e encontros desse gênero. “Ceará, Bahia e Paraná contam com ótimos festivais e o espaço se abre agora mais ao Sul, com o Floripa Instrumental, e ao Norte, com o Festival de Manaus”, diz com a propriedade de quem conhece profundamente o ramo.

“Desde o mestre Pixinguinha a riqueza do Brasil é muito ampla na música instrumental. É por isso que quero um público mais geral, quero multiplicar”. Seus projetos Aqui – Ó Jazz, de resgate da música instrumental mineira dos anos 60, e o Livrão da Música Brasileira, que terá 600 partituras, são bons exemplos de sua preocupação em preservar e incentivar este gênero musical.

Homem de vários instrumentos, Toninho toca violão, guitarra, baixo, bateria e ganha “certa desenvoltura no piano”. No primeiro disco do Clube da Esquina, por exemplo, ele tocava baixo. Este mineiro compôs músicas como Diana, O Céu de Brasília e Durango Kid (todas com Fernando Brant), Dona Olímpia (com Ronaldo Bastos, gravada também por Nana Caymmi), Beijo Partido (gravada por Toninho, Nana Caymmi e Joyce) e seu maior sucesso, Manuel, o Audaz (com F. Brant). De suas dezenas de discos participaram músicos consagrados internacionalmente, como o guitarrista Pat Metheny, Naná Vasconcelos e Eliane Elias.

Entre os ídolos de Toninho estão Hermeto Pascoal, Dorival Caymmi, Tom Jobim e o conterrâneo Wagner Tiso. O guitarrista Wes Montgomery é sua inspiração. Ele destaca os brasileiros Hamilton de Holanda e Yamandu Costa, como os atuais responsáveis pelo ressurgimento na mídia da música instrumental brasileira.

Não é à toa que um deles, o gaúcho Yamandu, estará no mesmo palco do Floripa Instrumental, onde Toninho promete levar, ao lado do baterista Robertinho Silva e do multiinstrumentista Arismar do Espírito, uma música com suingue brasileiro. “Somos um trio pra lá de maduro na música brasileira, tocamos juntos desde a década de 70, temos uma linguagem própria e muito bom humor”, confessa o mineiro. No repertório, as músicas do disco Cape Horn, como Bons Amigos, além das clássicas Beijo Partido, Vestido de Noiva e Manuel o Audaz.


Histórico

A música esta entranhada nas veias sonoras de Toninho Horta, 63 anos. Seu avô materno era maestro, sua mãe, dona Geralda, tocava bandolim, e o pai, Prudente de Melo, além de fazendeiro, era afeito à música, em especial ao violão. “Desde os 8 anos é forte minha ligação com a música, principalmente a instrumental”, diz o mineiro de Belo Horizonte, acrescentando que recorda como se emocinava ao ouvir este tipo de música.

Aos 10 anos, Toninho Horta dava seus passos iniciais no violão e, em 1967, já participava com duas músicas do Festival Internacional da Canção Popular. Uma delas, Maria Madrugada, em parceria com a prima Júnia Rosa.

Na década de 1970, tocando na banda da pimentinha Elis Regina, ganha visibilidade nacional, mas conserva sua banda A Tribo, ao lado de Nelson Angelo, Joyce, Novelli e Naná Vasconcelos. Foi Milton quem fez Toninho gravar seu primeiro disco Terra de Pássaros, iniciado em 1976 e só lançado em 1980.

Nesta mesma época Toninho participou do Clube de Esquina e de inúmeros discos, entre eles o de Lô Borges, João Bosco, Airto Moreira, Edu Lobo, Nana Caymmi, entre outros. Seu talento chamou a atenção de críticos internacionais e por dois anos consecutivos (1977 e 1978) ficou entre os 10 melhores guitarristas do jazz, segundo a Melody Maker, publicação inglesa.

Foi morar nos Estados Unidos por um tempo e frequentou a Juilliard Scholl of Music, em Nova York. Logo se tornou um instrumentista requisitado, tocando com Wayne Shorter, Gary Peacok, Pat Metheny, Sergio Mendes, Orchestra Gil Evans, George Duke, entre outros. Nos últimos 30 anos participou de 200 discos no Brasil e exterior e realizou turnês na América, Europa e Ásia. Lançou nos anos 80 seis discos e na década seguinte mais nove CDS, entre eles Durango Kid, Foot on the Road e Sem você.

As viagens são uma frequencia na vida deste mineiro que gosta de andar pelo mundo, mas se sente bem em Belo Horizonte.