Revista Música Brasileira

Quando se fala de marchinha de carnaval no Brasil (e onde mais seria?), o primeiro nome de autor que nos ocorre é Braguinha, o João de Barro. O prolífico compositor deixou mais de 400 músicas, de diversos gêneros. Foram valsas, sambas, toadas, marchas e um belo acervo de canções infantis, eternizadas nos famosos disquinhos coloridos da Continental.
Seu sucesso acabou, de certa forma, eclipsando alguns de seus parceiros. O principal foi Alberto Ribeiro, um médico homeopata, gozador nato, que criou alguma das peças mais conhecidas da nossa música popular, junto com Braguinha. Quem não conhece Yes, Nós Temos Bananas, Chiquita Bacana ou Touradas em Madri?
A parceria com Braguinha rendeu peças antológicas, e não só carnavalescas. Quem não conhece os versos de “Copacabana, princesinha do mar...”, na voz de Dick Farney?
Mas Alberto Ribeiro também compôs com outros parceiros, e muitas vezes sozinho. Basta citar Um Balão Vai Subindo, gravado por Carmen Miranda em 1935, um clássico das festas juninas. Ribeiro batizou a criação com o poético nome de Sonho de Papel, mas a canção acabou conhecida mesmo pelo seu primeiro verso. Mesmo assim, muita gente canta errado, “o balão”...
Alberto Ribeiro não deixava barato. Foi detido algumas vezes durante o Estado Novo, pela polícia de Getúlio Vargas. Ao ter a chance de gravar um disco todo seu, meteu bronca.
Em 1956 lançou o disco autoral Aviso aos Navegantes. Um LP com 16 composições, que teve pouca repercussão. O clima eufórico de Brasil novo, era JK, pré-bossa nova, não prestou muita atenção ao painel social montado pelo compositor em suas letras. Para o historiador José Ramos Tinhorão, é o primeiro disco de canções de protesto da história do Brasil. Nunca reeditado, esta preciosidade foi restaurada pelo Instituto Moreira Sales, que guarda o acervo do crítico, odiado (com certa razão) por tantos modernos.
A boa notícia é que o repertório está sendo ensaiado e vai ser apresentado em breve, em São Paulo. Os bambas Marcelo Pretto (voz), Lincoln Antonio (teclados), Kabé Pinheiro (percussão) e Rodrigo Sestrem (sopros) estão nos trinques, preparando um show que certamente vai dar o que falar sobre música, memória, história, conjuntura, atualidade. E com participações especiais de Roberta Estrela D'Alva e Tia Cida dos Terreiros, pra embelezar a coisa toda.
Dias 12 e 13 de novembro, No IMS Paulista. E em breve, esperamos, em todo o Brasil. Porque Alberto Ribeiro merece!