Especial

Axé Music: o que foi e o que é

Por Felipe Silvany - 15/02/2013

Muita coisa aconteceu desde que Luiz Caldas nos idos de 1985 começou a remexer sua cintura ao som do que muitos consideram a primeira canção do Axé Music, “Fricote”. Apesar de sua letra nada complexa o ritmo era demasiadamente adequado ao verão e, sobretudo ao carnaval da Bahia. Assim foram dados os primeiros passos desse ritmo baiano.

Desde então muitos expoentes da música baiana foram surgindo, cada um ao seu estilo, mas trazendo como ponto comum a música feita para o carnaval, para acompanhar essa festa de rua tão tradicional e que tornou-se peculiar na Bahia por conta da invenção do trio elétrico de autoria de Dodô e Osmar, popularizado por Moraes Moreira na década de 60 - o primeiro a subir no trio literalmente. Além do mais, Moraes Moreira é o autor da canção que se popularizou como o hino do carnaval baiano. “Chame Gente” popularizou-se pela letra brilhante que traduz perfeitamente a Bahia, através de sua gente, seus lugares e é claro, do carnaval. “Alegria, alegria é o estado, que chamamos Bahia De Todos os Santos, encantos e Axés, sagrado e profano, o Baiano é, carnaval”.
Voltando as origens do axé, Luiz Caldas permaneceu em foco por algum tempo, inaugurando o mercado do axé, inclusive, fora das fronteiras baianas, tendo a sua música chegado ao sudeste, mercado até então desconhecedor da Axé Music.

Porém o grande pilar do axé foi se formando através de bandas como o Chiclete com Banana. Formada em 1980 a então “Scorpius” (o nome mudaria apenas em 1982) puxou um bloco carnavalesco pela primeira vez em 1981 com o extinto “Traz os montes”. O grande sucesso da banda viria em 1986 com o seu álbum “Gritos de Guerra” vendendo quase um milhão de cópias. No decorrer da década de 1990, o “Chiclete” deu sequência ao seu sucesso com outras grandes músicas, perfazendo o seu auge, sobretudo com a entrada no mercado do sudeste e por consequência do Brasil inteiro.

Outro pilar do Axé, a Asa de Águia nasceu no final dos anos 80 e em 1990 arrastou pela primeira vez o bloco Crocodilo tocando o primeiro grande hit da banda. “Bota pra ferver” mostrava quão influenciada havia sido a banda pelo Rock´n Roll. Desde então outros hits embalaram os foliões como “Take it easy” e “Dia dos namorados”.

Daniela Mercury foi uma grande responsável pela expansão das fronteiras do Axé. Em 1992 fez um show épico no Museu de Arte de São Paulo (MASP) que provocou um longo engarrafamento na Avenida Paulista. Embalada por seu “canto da cidade”, Daniela provocou um grande frisson na multidão que a assistia naquele momento.

A Banda Eva outra grande intérprete do Axé music, teve o seu auge na formação encabeçada por Ivete Sangalo nos anos 90. Com o grande hit também chamada de “Eva”, criada pela banda Radio Taxi, a banda fez grande sucesso com músicas que se tornaram clássicos do carnaval como “Alô paixão”, “Coleção” e “Flores”. Após algumas trocas de vocalistas a Banda Eva teve novo auge com o cantor Saulo Fernandes que conseguiu trazer de novo a força da banda incorporando novas músicas ao já consagrado repertório.

Outra grande força do Axé Music foi formada pela música percussiva baiana. Olodum e Timbalada, movidas pela influência dos sons africanos, trouxeram uma grande novidade para todos que acompanhavam a música até então, influenciando “percussivamente” todas as outras bandas do Axé Music. Popularizada no início dos anos 90, essas bandas trouxeram a música dos guetos de Salvador para a avenida. Durante o carnaval, a Timbalada compôs o seu bloco, trazendo turistas estrangeiros e nacionais para acompanhar seu som. Atualmente apesar de já não conter a mesma formação de sucesso de outrora (Ninha, Xexéu e Patrícia) a Timbalada ainda atrai muita gente para os seus ensaios. É necessário frisar que o sucesso da Timbalada deve-se diretamente a influência de Carlinhos Brown, um dos seus formadores. Brown, um grande artista baiano hoje encontra-se consagrado não só pelo início com a Timbalada mas por outras realizações, como as composições envolvendo parceiros da grandeza de Marisa Monte, Herbert Vianna e Arnaldo Antunes.

Falar do Axé Music sem falar do carnaval moderno da Bahia é um tanto quanto difícil, pois a história dos dois se confunde. Até porque o Axé foi idealizado para acompanhar a festa momesca, para falar de amor, das praias, do verão e do próprio carnaval. No meio da década de 1990 o Axé Music se viu confundindo com outros ritmos, sobretudo por influência do público de fora da Bahia. Ao surgirem bandas como o Gera Samba (que tornaria-se `”È o tchan”), Companhia do Pagode e Terra Samba, que eram totalmente influenciadas pelo pagode e pelo próprio samba, o público passou a não distinguir o Axé Music da música feita na Bahia. Para muitos, eram a mesma coisa. Essas bandas, que possuíam um som completamente diferente do Axé nascido na década de 1980, acabaram escorando no seu sucesso, admitindo serem bandas de axé também, apesar de sua música não ser fiel a essas ditas raízes. Por uma questão de marketing, haja visto o crescimento do mercado do carnaval baiano, essas bandas queriam ser tratadas do mesmo modo como outros já consagrados grupos. Por conta da generalização completa, acabaram por um bom tempo puxando blocos de carnaval. Porém hoje em dia esse tipo de música está quase extinta. Aquele tipo de música não combinava com o carnaval de Salvador e as demais micaretas pelo Brasil. Repito, o axé foi feito para ser tocado nos carnavais, já esse outro tipo musical nunca se encaixou no carnaval.

Mesmo durante o “boom” desse tipo de música, o axé deu continuidade com o seus pilares já citados acima. Chiclete, Asa e todas as outras grandes bandas faziam grandes carnavais e micaretas, continuando com a mesma força de sempre e desse modo entraram no século XXI.

Em meados dos anos 2000, o axé iniciou uma fase de baixa. As bandas já consagradas não lançavam músicas como antes, e poucas canções novas tornaram-se sucessos. Chiclete com Banana lançou “Não vou chorar” e “Voa voa”, porém assim como a Asa de Águia, passou a se escorar no seu antigo repertório de sucesso. Atualmente o sessentão Bell Marques (Chiclete com Banana) e o cinquentão Durval Lelys (Asa de Águia) já não possuem a mesma energia de antigamente e os seus blocos já não são conduzidos com tanta empolgação.

Atrelada à caída de produção dessas grandes bandas está a escassez de novos talentos. Poucas revelações surgiram na primeira parte da década de 2000, a exemplo da “Babado Novo” de Claudia Leitte, que no início de carreira trazia grande energia aos palcos, sendo trilha sonora de muitas festas nesse período. A banda levou uma antiga canção de Michael Sullivan e Paulo Massadas às paradas de sucesso. Gravada nos anos 80 por Roberto Carlos, “Amor Perfeito” tornara-se então um grande hit do axé naquele momento. Infelizmente, o início de uma carreira solo provocou um pouco o seu desligamento das raízes baianas e hoje, buscando um viés comercial, a cantora já não pode ser considerada apenas de Axé Music, perdendo até sua identidade.

Como já citado, Saulo Fernandes conseguiu dar nova cara à Banda Eva, com músicas como “È do Eva” e “Tudo certo na Bahia”. Prestes a dar início a uma carreira solo, Saulo possui o desafio de continuar agradando o público que lhe acompanha há anos na Banda Eva.

Por outro lado, Alinne Rosa, cantora do Cheiro de Amor é uma grande intérprete, detém uma voz poderosa, mas apesar de ainda jovem também se vê atrelada a antigos sucessos da histórica banda de Salvador.

Chegando a segunda metade da década de 2000, algumas raras “revelações” do Axé foram surgindo: Jauperi e Pierre Onassis formaram a banda Afrodisíaco, inaugurando um novo som na Bahia. “Café com pão” trouxe o mesmo swing baiano de sempre em uma nova roupagem e tornou-se hit do carnaval de 2006. Em que pese a separação rápida da banda, Jau iniciou um projeto solo que atinge muito sucesso nesse momento.

Outra grande surpresa da música baiana atual é Magary Lord, que inventou moda juntado uma música caribenha a já conhecida percussão baiana; talvez seja o cantor que mais lembre Luiz Caldas no início de carreira. Sua música é acompanhada de uma dança diferente, embalada por um ritmo muito gostoso capaz de agitar qualquer carnaval do Planeta.

Quem sabe Magary Lord não inaugura uma nova fase do Axé?

Para a continuação dessa música eminentemente baiana é necessário que novas revelações possam dar continuidade ao que foi inventado há quase 30 anos, para que o público possa não só cantar o que foi criado na década retrasada, mas para que possa cantar o novo, o novo axé.