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As viagens de Mauricio Pereira

Por Daniel Brazil - 03/12/2014

Lançado no dia 30 de novembro em São Paulo, com show no Auditório Ibirapuera, o novo CD de Mauricio Pereira (Pra Onde Que Eu Tava Indo, Tratore, 2014) mostra o compositor afiado como sempre. Acompanhado de uma ótima banda e alguns convidados especiais, Pereira desfia belas canções, plenas de originalidade. As letras estão cada vez mais apuradas, densas, ora brincalhonas ora introspectivas, se amoldando com perfeição a melodias que jamais cedem à facilidade.

É o quinto CD de Mauricio Pereira, depois de se tornar conhecido nos anos 80 com um dos Mulheres Negras (o outro é André Abujamra). Vem da mesma década a amizade com o parceiro Tonho Penhasco, que participou dos arranjos e assumiu violões e guitarras no estúdio, com a competência de praxe. É dos dois a balada pós-moderna “Deixa Eu Te Dizer”. Novas parcerias também rendem belos frutos, como a sacudida canção que dá título ao CD, feita com o violeiro Chico Lobo. Luiz Felipe Gama musicou a balada Andas Seca, e o tecladista Lincoln Antonio dividiu “Não Adianta Segurar o Choro”, já gravada pela cantora Juliana Amaral.

Pereira também canta músicas só suas (Criancice, Três Homens, Três Celulares, Fugitivos, Nós Três Mais Maria Eunice) e, como gosta de mergulhar na surpresa, interpreta composições de Nélson Cavaquinho (Notícia), Jorge Mautner (Aeroplanos), e até uma canção composta para teatro por Lincoln Antonio e Georgette Fadel (Medrosa). Sua conhecida queda por canções italianas faz com que encerre o disco com um clássico dos anos 60, Ciao, Amore, Ciao.

Quando terminamos a audição de um CD de Mauricio Pereira, imediatamente bate a vontade de reiniciar. E vamos descobrindo detalhes saborosos, versos insólitos, novos significados. O homem esmiúça as palavras, desenha imagens cativantes, e cria melodias que não se parecem com nada que tenhamos ouvido antes, a não ser vindo do próprio Maurício Pereira. De forma definitiva, é um dos inventores da moderna canção urbana brasileira do século XXI.