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Um ano de Rádio Deleite

Por Daniel Brazil - 22/09/2022

Há pouco mais de um ano, uma nova rádio começou a chamar a atenção dos apreciadores da boa música brasileira. Um verdadeiro oásis de qualidade e variedade, a Rádio Deleite (www.radiodeleite.com.br) ainda se dá ao luxo de mesclar músicas instrumentais ao repertório cantado, tornando ainda mais saboroso o repertório. E o melhor, pode ser ouvida em qualquer lugar do planeta, basta acessar!
Convidamos o idealizador, Geraldo Leite (integrante do grupo Rumo, entre outras atividades), para uma conversa.
- Antes de tudo, diga como surgiu a ideia e se concretizou a Rádio Deleite.
- Há tempos eu pensava em voltar a fazer um programa de Rádio. Aí, por volta de 2020, o Luiz Antonio Melo, radialista e jornalista, ex- Fluminense FM, me convidou pra fazer um programa semanal em uma webradio que ele tocava. A rádio acabou antes de eu entrar no ar e ele passou a fazer uma boa radio de Rock que é a Radio Lam. Inspirado nessa experiência, resolvi seguir e montar uma nova web rádio com um foco diferente de música brasileira, daí a Rádio Deleite.
Sempre estive ligado a produções mais alternativas de rádio (antiga Bandeirantes FM, Eldorado, Jornal do Brasil, Usp e Cultura) e de música (Rumo) e sempre também me incomodou os modelos disponíveis de emissoras de música brasileira, por serem calcadas só nos sucessos cantados e tocarem um repertório muito limitado.
Preparei o posicionamento, digitalizei os meus CDs, criei as identificações e vinhetas, preparei um mini estúdio, pedi ao Edinho Moreno para gravar as identificações da rádio e dos programas, consegui a participação do Marcelo Brissac (músico e radialista) na produção de alguns programas e encontrei uma empresa para fazer a seleção aleatória das músicas, evitando as repetições.
Além disso, temos uma empresa que faz o streaming, o site e o aplicativo para Android, fundamental para identificar o que está sendo tocado, nessa fase em que ainda não conseguimos operar ao vivo.
Contamos ainda com o brilhante e voluntário apoio do artista gráfico Hélio de Almeida na identidade visual e na produção de peças para promoção no Instagram e Facebook do site da Radio Deleite.

- Quais os desafios de montar uma programação com um universo tão vasto como é a música popular brasileira?

- A questão sempre é a de pensar em como agregar novos ouvintes, sem perder aqueles mais fiéis. Como nosso foco são os "músicos e afins", mostrar a música atual situada na história, no nosso caso, até o tempo da Bossa Nova, tem uma boa lógica. Queremos valorizar os artistas do setor, músicos, compositores, arranjadores; muitos deles que não recebem destaque. Abrimos também o leque para a língua portuguesa, seja da nova produção de Portugal, como da incrível criação atual dos países africanos luso-falantes. Abrimos também, nesse diálogo com os músicos brasileiros, a participação para músicos latinos, com forte presença de Cuba, Cabo Verde, etc. Nós ainda vivemos e convivemos com "heróis" que ajudaram a criar a nossa música e eles tem que ser identificados, valorizados e ajudar a manter essa eterna passagem de bastão da nossa cultura. Alguns geniais, como Tom Jobim e João Gilberto, já se foram, mas muitos continuam ativos e somos partidários, como dizia o Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, que eles recebam "as flores em vida". E temos que fazer isso logo, pois boa parte da geração de ouro que surgiu na época dos festivais, já chegou nos 80 anos.
- Após um ano, a rádio vem conquistando cada dia mais ouvintes. Qual é a meta?
- Nós temos avançado, podemos crescer bem mais, contamos com o gradual boca a boca e acreditamos que muitos ouvintes e músicos ainda vão nos descobrir. Acreditamos, inclusive, que temos uma audiência potencial fora do Brasil (temos vinhetas gravadas em Inglês e espanhol aguardando a hora certa de irem ao ar). Para crescer mais mesmo, temos que conseguir algum apoio para produzir uma parte da programação ao vivo, onde o envolvimento é sempre muito maior. Precisamos também conseguir mais ação e divulgação nas redes sociais, ocupando outros espaços, como o YouTube, por exemplo.
Sofremos até mesmo para colocar novas músicas no ar, pois não recebemos nenhum material das gravadoras e mesmo assinando uma plataforma musical, não é possível copiar para MP3, que é como operamos.
Hoje tecnicamente estamos muito limitados, temos um laptop no ar e um estúdio de produção com um desktop e um microfone. E a dedicação total do escriba que lhes escreve... O que nos salva, felizmente, é o conteúdo. Mas com paciência e apoio chegaremos lá.

- É possível manter uma rádio sem patrocínios, sem comerciais?

- A opção por ser não comercial, acredite, foi por economia. Entendemos que para representar os músicos brasileiros de forma exemplar, temos que pagar o Ecad regularmente, mesmo sendo uma web rádio. Esse pagamento como uma rádio não comercial sai por volta de R$ 700/mês. Se fosse comercial, iria para mais de R$ 4 mil/mês e foge do meu "bolso" potencial. Gostaria de seguir sem passar comerciais, talvez como as "subscribe radios" americanas, mas não sei se conseguiríamos isso.
Quem sabe, crescendo a audiência de fato, possamos mudar o posicionamento e virar comercial, recebendo do mercado um dinheiro que nos ajude a crescer na estrutura e nos possibilite pagar o Ecad de emissora comercial.
Fazer essa entrevista para a Revista Música Brasileira ouvindo a Rádio Deleite foi uma delícia. Recomendo a audição, em todas as horas, em casa ou na estrada, na guerra ou na paz. Clique aí: www.radiodeleite.com.br