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O surpreendente Emerson Leal

Por Daniel Brazil - 08/11/2012

É comum, após certo tempo de vida, as pessoas irem se afastando nas novidades e ficarem ligadas apenas à trilha sonora de seus “anos dourados”. Ouvimos nossos avós dizerem que “ah, aquilo sim é que era música!”. Nossos pais (não importam se foram roqueiros, sambistas, tropicalistas ou MPBistas) torcem o nariz para os novos. Se a nova geração repete a trilha dos mestres, são diluidores. Quando tentam fazer algo diferente, são simplesmente “fraquinhos”.

Deve ter algo a ver (e ouvir) com certa saturação musical que acomete o ser humano, após X anos de estrada. Este xis é variável, claro, dependendo da quantidade de horas que o indivíduo foi exposto à música na adolescência e início da fase adulta. Tem velhinho por aí que vai morrer fã dos Beatles e Rolling Stones. Nada contra, o problema é achar que nada de novo surgiu depois. Vale também para os fãs de Chico, Caetano, Gil, Milton e a turma que surgiu nos festivais dos anos 70. Ou os renitentes fãs de Frank Sinatra, Orlando Silva, Bing Crosby, Nelson Gonçalves, etc. Mais uma geração e eles serão substituídos por fãs de cabelos brancos encanecidos de Madonna, Freddie Mercury, Michael Jackson, Renato Russo e Cássia Eller. Espere pra ver!

Mas toda essa enrolação é pra dizer que o cinquentão que escreve tenta teimosamente acompanhar a nova geração de músicos e compositores brasileiros, pelo prazer da novidade. E como tem coisa boa, velhinhos! Dá pra encher um pen drive ou um iPod (antigamente eu diria “uma fita de duas horas”) com gente talentosa. Na minha lista pessoal, dou nota acima de 7 para uns trinta nomes da música brasileira contemporânea, de diversos gêneros.

O problema da visibilidade é cruel, no século XXI. Não há mais festivais, movimentos musicais, nouvelle vague sonora. Está tudo fragmentado, setorizado, enclubizado. E a grande válvula de escape acaba sendo a internet, as tais redes sociais. Além da música ao vivo, lógico, mas esta cada vez mais é feita para tribos específicas, enclausuradas. No belo documentário Tropicália vemos cenas do histórico festival da ilha de Wight, onde o palco foi aberto para aqueles brasileiros meio hippies (Caetano, Gil, etc.). Imagine se em um festival desses moderninhos que rolam pelo Brasil, todos com nome em inglês, bancados por marcas comerciais, se abriria espaço para desconhecidos no palco principal!

Gastar algumas horas mensais procurando o que o povinho da nova geração está produzindo é compensador. Tenho ouvido coisas estimulantes, criativas, renovadoras. O mais recente é Emerson Leal, baiano radicado no Rio de Janeiro, compositor, músico e intérprete de fino trato. Está lançando seu primeiro CD, obviamente pela internet e de graça (http://www.emersonleal.com/) e a boa notícia é de que o cara é mesmo bom. Canções com letras originais e inteligentes, moldadas em acabamento sonoro simples e apurado.

Não à toa, o cara apresenta duas parcerias com Tom Zé e uma com Luiz Tatit. Você acha que esses feras iriam dividir a partitura com um mané qualquer? Mesmo dono de uma voz afinada e agradável, Emerson não dispensa a companhia feminina no CD, e faz duetos deliciosos com Verônica Ferriani (na quase-bilíngue Me Love Me, parceria com Fernando Salem) e Ariella (na delicada canção “No Japão”, parceria com outro jovem baiano promissor, Oto Paim).

Enfim, aflora mais um brilhante talento para congestionar ainda mais a nossa blogosfera. Nas rádios, onde impera a mediocridade, não será fácil furar o bloqueio. Mas quem quiser conferir ao vivo, o show de lançamento será no Solar de Botafogo, no dia 5 de dezembro de 2012. Até lá, baixe, ouça, curta e reclame comigo se não gostar. Duvido!