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Batucando com Moacyr Luz

Por Daniel Brazil - 29/10/2009

Sabe quando te dá um porre, uma ressaca devido ao excesso de alguma coisa? Pode ser álcool, cigarro, comida, sexo, e até música. É, música! De vez em quando enjôo de pandeiro e ouço Mozart por alguns dias. Ou enjôo de violinos e caio no batuque por uns tempos. Faço imersão no jazz, rendo homenagens a Monk e Davis, e depois retorno à viola. Ou Luiz Gonzaga. Ou Villa-Lobos.

Estava numa fase dessas, em relação ao samba. Até comentei com o Pimentel, editor da RMB, tentando justificar minha pouca participação nestas páginas nos últimos tempos. Tudo que eu ouvia parecia meio igual, nem bom nem ruim, tempos de calmaria. Mas então me caiu nas mãos o último CD do Moacyr Luz (Batucando, Biscoito Fino, 2009).

Aprecio o Moa à distância, há uma légua de tempo. Parceiro de bambas, violonista de responsa, intérprete refinado, compositor original. Nunca participei das rodas de samba que promove, só o assisti ao vivo uma vez, em São Paulo. Gosto muito do CD que gravou, em trio, interpretando peças garimpadas na Era de Ouro do samba (Na Galeria, Lua Discos, 2001). Bom compositor, com alguns clássicos na sacola, pronto para a eternidade.

Pois não é que o cara me fez voltar aos tamborins, com os indicadores pro alto, no meio da sala? O malandro juntou uma cambada de amigos e pôs na mesa um lote de sambas de fina extração, quase todos inéditos. Tem parcerias com Aldir Blanc e PC Pinheiro, claro. Com Sereno, do Fundo de Quintal, tem três. Com Hermínio, outros três. E traz as vozes de Luiz Melodia, Mart’nália, Tantinho da Mangueira, Alcione, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Martinho da Vila e Wilson das Neves, numa baita comissão de frente. Pra completar, canta cada dia melhor o barbudo. É possível querer mais?

Não, não é. Moacyr joga sua luz sobre o velho samba com tal sabedoria que o deixa com cara de novo. E mostra tanta maestria no oficio que faz o fígado sossegar e pedir mais uma. Não é fraco, não!