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Balançando o coreto

Por Monica Ramalho - 10/04/2012

Apresentar temas contemporâneos, fazer um apanhado do repertório das tradicionais bandas de música brasileira e revitalizar os coretos e seu entorno, como praças e parques. Essas são as três metas fundamentais do projeto itinerante “O som dos coretos”, da Banda Luzeiro de Paquetá. Ao todo, serão quatro shows, realizados ao longo de abril e maio, sempre aos domingos, em coretos de Paquetá, do Méier, do Flamengo e da Quinta da Boa Vista. E ao ar livre, como os cariocas gostam!

“A nossa ideia foi trazer para a metrópole essa prática, que ainda é muito comum nas cidades do interior”, diz Pedro Paes, saxofonista do Luzeiro. O grupo foi criado justamente para difundir o repertório dessas bandas e, assim como elas, é composto por sopros e percussão, mas em formação reduzida. No roteiro, peças do início do século XX e temas de autores vivos e atuantes, como Cristovão Bastos e Mauricio Carrilho. “Queremos fazer com que o passado dialogue com o novo através de arranjos atuais e adaptações, a maioria feito pelo Luzeiro, e do improviso coletivo”, pontua o clarinetista Rui Alvim.

O schottish “Luzeiro de Paquetá”, de Mauricio Carrilho, nomeia o conjunto e faz uma alusão ao bairro onde nasceu Anacleto de Medeiros, principal figura do universo das bandas de música do Brasil. Anacleto marcou a cena musical com suas composições e fez história ao ser o regente-fundador da Banda do Corpo de Bombeiros, referência até hoje para instrumentistas e estudiosos, entre eles os oito integrantes do Luzeiro de Paquetá.

No roteiro, obras de Ernesto Nazareth (“Pinguim”), Altamiro Carrilho (“Saudade da fazenda”), Tom Jobim (“Derradeira primavera”), Moacir Santos (“Agora eu sei”) e Nino Rota (“Os palhaços”). Formado por Antonio Rocha (flauta e flautim), Rui Alvim (clarinete), Pedro Paes (sax tenor), Aquiles Moraes (trompete), Everson Moraes (trombone), Thiago Osório (tuba), Magno Julio e Marcus Thadeu (percussão), o grupo está trabalhando no seu primeiro álbum, a ser lançado neste 2012. Quer ouvir essa rapaziada ao vivo?

Programação:

  • Dia 22 de abril, às 12h30: Coreto Renato Antunes, na Praça de São Roque, em Paquetá
     
  • Dia 29 de abril, às 11h: Coreto Modernista, no Aterro do Flamengo
     
  • Dia 06 de maio, às 11h: Coreto do Jardim do Méier
     
  • Dia 13 de maio, às 11h: Coreto da Quinta da Boa Vista (Pagode Chinês)

 

Coretos, uma lúdica tradição

Inicialmente, os coretos surgiram no mundo como um espaço de democratização cultural, a partir dos ideais de igualdade da Revolução Francesa, quando a cultura saiu dos ambientes fechados e para se expôr nas áreas públicas. Os coretos foram palcos de manifestações políticas e testemunhas de transformações sociais.

No Brasil, os coretos populares, construídos em praças públicas, foram construídos no início do século XX para atender cantadores, poetas e, principalmente, bandas de música que habitualmente se apresentavam nesses locais. Eles abrigavam muitas das tradições musicais que hoje encontram espaço reduzido, muitas vezes inexistente, nas cidades.

No Rio de Janeiro, além de abrigarem apresentações musicais, os coretos começaram a ter a preferência do povo que, formando cordões e blocos, passou a brincar nas suas proximidades. Porém, com o passar do tempo, estes coretos se tornaram monumentos abandonados. Alguns desapareceram, mas muitos ainda permanecem nos locais onde foram erguidos. Em muitas cidades do interior do estado do Rio, os coretos permanecem ativos – para a alegria dos moradores e das bandas locais.
 

*Foto de Silvana Marques