Artigos

A Bahia Fantástica de Rodrigo Campos

Por Daniel Brazil - 15/05/2012

Rodrigo Campos é profundamente paulista, um jovem e talentoso cronista musical das quebradas da metrópole. Seu elogiado disco de estreia (São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe, 2009) trazia polaroids musicais de cenas da cidade, com tintas ora melancólicas, ora cruéis.

Joga no mesmo time de Rômulo Fróes, Kiko Dinucci, Luiza Maita, Marcelo Cabral e Thiago França, músicos e compositores que estão mostrando uma dicção própria na música brasileira, em constante efervescência criativa.

No início de 2012 Rodrigo lançou este belo conjunto de canções, e a cabeça dos fãs entortou. Como um cara tão paulistano faz um disco chamado Bahia Fantástica? Ele mesmo conta que após uma viagem à Bahia, em crise pessoal e afetiva, compôs um punhado de canções que remetem a um lugar imaginário, uma Bahia inventada, onde os personagens muitas vezes transitam por... São Paulo!

É o caso de Jardim Japão, cantada por Juçara Marçal, com ótimo arranjo e uma letra reveladora de certo submundo à margem da lei: “moleque vacilão/ não sabe nem matar”. Ou de Sete Vela, onde um ladrão de carros pede conselho a outro; ou ainda de Elias, onde o personagem “não vem de trem da CPTM/ da Prefeito Saladino/ sem memória da maloqueiragem da 18/ do veneno dos meninos” (Saladino é uma parada de Santo André, no ABC).

Mas a Bahia também está lá, claro, envolvida em tambores, doces e espírito. A faixa de abertura já deixa claro: “Tenho Bahia pra você”. Vida e morte, os temas essenciais de Rodrigo estão sempre presentes. Mas não tem problema, pois “todo fim de tarde Aninha morre”, e “Elias vai nascer de novo”.

A Princesa do Mar de Rodrigo é uma garota que se afoga (entrou na maré bruta/ virá na maré mansa”). Será doce morrer no mar? Morte na Bahia fala de uma flor (metafórica?), e é cantada por Luiza Maita. Criolo mostra sutileza na bela interpretação de Ribeirão, história trágica de escravos que poderia se passar em qualquer Bahia desse Brasil: “Ribeirão encheu, ribeirão sangrou”.

“Sou de Salvador/ cheguei na Bahia de manhã” canta o coro dos amigos, na funkeada faixa de encerramento. Chegou agora, mas já é.

Compositor imagético, Rodrigo escreve para o nosso tempo. Mas, ao contrário do turbilhão de imagens banalizadas pela TV, pelo cinema e internet que inundam nosso cotidiano, suas canções estimulam o ouvinte a delinear os personagens e cenários em sua própria cabeça. Não há descrições físicas, mas psicológicas. Este ar de mistério em cada história nos faz reouvir cada canção, sem enjoar. Não se esgotam à primeira audição. E crescem.